0 O Antigo e Verdadeiro Chacaltaya (1990) - Blog do Rodrigo - 1000 dias

O Antigo e Verdadeiro Chacaltaya (1990) - Blog do Rodrigo - 1000 dias

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O Antigo e Verdadeiro Chacaltaya (1990)

Bolívia, La Paz, Chacaltaya

Aos 5.300 metros de altitude, quase no topo do monte Chacaltaya, onde existia a mais alta pista de esqui do mundo, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

Aos 5.300 metros de altitude, quase no topo do monte Chacaltaya, onde existia a mais alta pista de esqui do mundo, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


Para quem acompanha nossas andanças por esse continente, sabe que quando nós passamos por La Paz, a capital da Bolívia, nós tentamos subir o Chacaltaya. Essa montanha ganhou fama internacional há algumas décadas porque nela se localizava a pista de esqui mais alta do mundo. Há um refúgio construído a 5.300 metros de altitude, quase no topo da montanha, e aí ficavam hospedados os esquiadores que vinham do mundo inteiro. Infelizmente, nos últimos anos, a montanha ganhou fama por outro motivo: um exemplo claro de como as mudanças climáticas estão afetando paisagens que antes eram cartões postais. O gelo e a neve simplesmente sumiram do Chacaltaya e a antiga e famosa pista de esqui é hoje apenas uma lembrança, um fantasma do passado a nos mostrar o que estamos fazendo com o nosso planeta.

A estrada que leva ao monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

A estrada que leva ao monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


Início da caminhada até o refúgio no alto do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

Início da caminhada até o refúgio no alto do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


Tanto eu como a Ana já havíamos estado no Chacaltaya em anos anteriores. Eu, em Julho de 1990, e ela, no inicio do milênio. Estávamos os dois ansiosos para voltar lá e ver com nossos próprios olhos as mudanças na montanha. Como eu disse no início do post, nós voltamos, mas não conseguimos subir novamente o Chacaltaya. Por um motivo meio estranho, devo admitir. Chegamos ao pé da montanha com a Fiona, mas na hora de fazer a caminhada, pegamos a trilha errada e subimos a montanha ao lado. O posts desta história inusitada estão aqui (1a parte) e aqui (2a parte), em duas partes. A experiência foi ótima, como está relatada nos posts, e pudemos ver muito bem como o gelo e neve sumiram lá de cima. Triste sensação. Mas ficou faltando também aquele gostinho de ter voltado ao cume do Chacaltaya. Como não estivemos lá, resolvi contar a história de quando estive lá, a montanha absolutamente cheia de neve e com esquiadores ao nosso lado. Foi durante meu primeiro mochilão pela América Latina, juntamente com o primo Haroldo e o amigo Marcelo.

O Marcelo descansa na caminhada até o topo do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

O Marcelo descansa na caminhada até o topo do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


Muita neve na região do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

Muita neve na região do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


Depois da nossa viagem desde Bauru até a Bolívia e pegando o famigerado Trem da Morte (veja essa história aqui), nós chegamos à La Paz no início da tarde do dia 6 de Julho. Da rodoviária, seguimos a pé para o centro, em busca de um hotel. Mas antes disso, já paramos no Club Andino para inquirir sobre o Chacaltaya. Pela nossa programação apertada, tínhamos apenas 3 noites na cidade e ir ao Chacaltaya era uma prioridade para nós, loucos para ultrapassar a barreira dos 5 mil metros. Até a véspera, estávamos a menos de 1.000 metros de altura, ou seja, não estávamos aclimatados de maneira alguma. Nossa primeira experiência com alta altitude havia sido justamente nesse dia, quando chegamos aos 4 mil metros da periferia de La Paz. Mas ali no centro, já estávamos a 3.600 m. O corpo demora alguns dias para se adaptar a estas alturas e nosso plano era seguir para o Chacaltaya em nosso último dia na capital boliviana. Até lá, já estaríamos muito melhores.

Caminhando na neve para chegar ao topo do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

Caminhando na neve para chegar ao topo do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


Muita neve na região do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

Muita neve na região do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


Mas planos são planos, realidade é realidade. No Club Andino fomos informados que havia nevado muito no Chacaltaya e que quase ninguém estava indo lá. Não havia excursões programadas para os próximos dias, exceto por uma, de esquiadores suíços. Eles já estavam em La Paz há quase uma semana e loucos para aproveitar essa neve toda na montanha. Partiriam no dia seguinte, bem cedo. Seria nossa única chance. Uma tática quase suicida, ir para cima dos 5 mil metros sem praticamente nenhum tempo de aclimatação, mas não tínhamos escolha. Para piorar, a estrada até o refúgio no topo da montanha estava interrompida pela neve e só se podia chegar de carro até a base do Chacaltaya, a 5 mil metros. Os últimos trezentos teriam de ser feitos caminhando mesmo. Era a oferta que tínhamos, pegar ou largar. Pegamos!

Muita neve na região do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

Muita neve na região do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


Lá no alto, o refúgio do monte Chacaltaya, a mais alta pista de esqui do mundo, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

Lá no alto, o refúgio do monte Chacaltaya, a mais alta pista de esqui do mundo, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


No dia seguinte, cedinho, a van do Club Andino passava no nosso hotel para nos buscar. Conosco, iriam três suíços e uma suíça, todos esquiadores. Estavam indo para ficar duas noites lá em cima. Ficaram muito (mau) impressionados quando souberam que nós só tínhamos chegado a La Paz na tarde anterior. A impressão piorou ainda mais quando falamos para eles que nem óculos escuros levávamos. “Indo para o meio da neve a mais de 5 mil metros de altitude, sem aclimatação e sem óculos, assim são os latino-americanos” – devem ter pensado. E o pior é que eles tinham razão...

Naquela época, ainda existia muita neve e gelo no topo do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

Naquela época, ainda existia muita neve e gelo no topo do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


O refúgio de apoio da antiga mais alta pista de esqui do mundo, quase no topo do monte Chacaltaya, aos 5.300 metros de altitude, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

O refúgio de apoio da antiga mais alta pista de esqui do mundo, quase no topo do monte Chacaltaya, aos 5.300 metros de altitude, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


Uma hora e meia de solavancos mais tarde na rústica estrada e chegamos ao pé da montanha, até um ponto onde o carro realmente não conseguia mais avançar. A neve fresca havia tampado tudo. Para nós, completamente desacostumados com neve, aquilo parecia o paraíso. Mas não podíamos nos excitar muito, pois isso acelera nossa respiração e o ar estava em falta por lá, já um pouco acima dos 5 mil metros. Nós carregávamos apenas um pequeno lanche e máquina fotográfica, enquanto os quatro suíços levavam nas costas grandes mochilas com o equipamento de esqui e suprimentos para os próximos dois dias. Dali para frente, tínhamos mesmo de caminhar. Inicialmente, pela estrada, ou o que aparecia dela por fora da neve. Depois, quando não havia mais vestígios dela, por meio da neve fofa mesmo, que em alguns pontos chegava na altura da nossa cintura. Para quem nunca tinha caminhado na neve, estávamos começando bem...

Com o Haroldo e o Marcelo, em frente ao refúgio da pista de esqui mais alta do mundo, aos 5.300 m de altitude, no monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

Com o Haroldo e o Marcelo, em frente ao refúgio da pista de esqui mais alta do mundo, aos 5.300 m de altitude, no monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


Naquela época, ainda existia muita neve e gelo no topo do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

Naquela época, ainda existia muita neve e gelo no topo do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


A dor de cabeça não demorou a chegar e foi logo combatida com um coquetel de aspirinas e pílulas para o “sorocho” (o mal da altitude). Isso pode ter ajudado contra a dor, momentaneamente, mas nada fez para recuperar o nosso fôlego, que insistíamos em perder depois de apenas alguns passos. Eu saí caminhando na frente, mas antes da metade do caminho, o Haroldo já me ultrapassava com folga. O Marcelo ficou bem para trás, sentindo bastante a altitude, e a simpática suíça com sua enorme mochila resolveu acompanhá-lo. O cansaço foi me pegando cada vez mais forte e, cinco minutos antes de chegar ao refúgio, dois dos suíços também me ultrapassaram. Naquela altura e condições, a minha máquina fotográfica parecia pesar do triplo das enormes mochilas que eles carregavam. Foi um esforço enorme para dar os últimos passos e a dor de cabeça já tinha voltado com força.

Com nossos conhecidos suiços, tentando recuperar as forças dentro do refúgio no alto do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia. Eles iriam esquiar por lá nos próximos dias  (viagem de Julho de 1990)

Com nossos conhecidos suiços, tentando recuperar as forças dentro do refúgio no alto do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia. Eles iriam esquiar por lá nos próximos dias (viagem de Julho de 1990)


Entrei no aconchegante refúgio e desabei no sofá. Dali ninguém me tiraria. O Haroldo estava muito melhor e eu ouvi de longe, no meio do meu torpor, os suíços o aconselhando e descer o quanto antes comigo e com o Marcelo, que só chegava agora e reclamava de dores e náuseas. Enquanto isso, a suíça já providenciava um chá de coca para todos nós, especialmente para os latino-americanos. Não sei se foi o chá ou os 10 minutos estatelados no sofá, mas eu comecei a melhorar. Se não me movimentasse muito rápido, até a dor de cabeça melhorava. Foi quando pude sair do refúgio a admirar aquela beleza impressionante ao nosso redor. Víamos La Paz ao longe, lagos congelados no pé da montanha, a pequena trilha que seguia para o topo logo ali e neve, muita neve, para todos os lados.

Com nossos conhecidos suiços, tentando recuperar as forças dentro do refúgio no alto do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia. Eles iriam esquiar por lá nos próximos dias  (viagem de Julho de 1990)

Com nossos conhecidos suiços, tentando recuperar as forças dentro do refúgio no alto do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia. Eles iriam esquiar por lá nos próximos dias (viagem de Julho de 1990)


Com o Haroldo e o Marcelo, em frente ao refúgio da pista de esqui mais alta do mundo, aos 5.300 m de altitude, no monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

Com o Haroldo e o Marcelo, em frente ao refúgio da pista de esqui mais alta do mundo, aos 5.300 m de altitude, no monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


Comparando com o que vi dessa vez, com a Ana, 23 anos depois, parecem lugares ou mundos diferentes. Nesses 1000dias, passamos por muitos lugares onde os efeitos do aquecimento global são visíveis, especialmente nas regiões polares. Mas nunca tínhamos tido um ponto de comparação que nós mesmos tivéssemos registrado. Sempre há fotos antigas desses lugares, mas é completamente diferente quando foram nossos próprios olhos que registraram a mudança. Foi realmente muito triste ver o estado do Chacaltaya que encontramos em 2013...

Naquela época, ainda existia muita neve e gelo no topo do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

Naquela época, ainda existia muita neve e gelo no topo do monte Chacaltaya, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)


Bom, para terminar a nossa história de 1990, o Marcelo também melhorou (só um pouquinho!) a ponto de sair em algumas fotos. Depois, sem escolha, tínhamos de descer rapidamente. Para baixo, todo santo ajuda. Mas ele continuou a vomitar durante a viagem de volta a La Paz. Não havia sido fácil, mas ninguém de nós estava arrependido. Aproveitamos a única chance que tínhamos de chegar ao topo dessa montanha e da mais alta pista de esqui do mundo. Naquela época, isso era apenas uma leve desconfiança, mas agora sabemos com certeza que aquela pista estava fadada a desaparecer. Outro bom motivo para termos estado lá, mesmo nessas duras condições, e ter testemunhado a pista ainda funcionando. Que bela pista de esqui o mundo perdeu...

Aos 5.300 metros de altitude, quase no topo do monte Chacaltaya, onde existia a mais alta pista de esqui do mundo, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)

Aos 5.300 metros de altitude, quase no topo do monte Chacaltaya, onde existia a mais alta pista de esqui do mundo, perto de La Paz, na Bolívia (viagem de Julho de 1990)



P.S Para quem se interessar, os relatos dessa viagem de 1990 que estão no site dos 1000dias são:

1 - A viagem no Trem da Morte
2 - A subida do Chacaltaya, em La Paz (este post!)
3 - A Trilha Inca até Machu Picchu
4 - Viajando pelo rio Amazonas do Peru ao Brasil

Bolívia, La Paz, Chacaltaya, trilha, Montanha, ViagemAntiga

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Na Carretera de la Muerte

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Yungas, Afrobolivianos e a Coca

Comentários (3)

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  • 16/06/2016 | 22:10 por Helder Maia Moço

    Muito bom ler o seu relato, Eu fiz esse viagem em 1985, também estive em Chalcataya!

  • 16/06/2016 | 21:58 por Helder Maia Moço

    Muito bom ler o seu relato, Eu fiz esse viagem em 1985, também estive em Chalcataya!

  • 16/06/2016 | 21:55 por Helder Maia Moço

    Muito bom ler o seu relato, Eu fiz esse viagem em 1985, também estive em Chalcataya!

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