As Palestras e a Vida Selvagem

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OlÃ¡, tambÃ©m estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)

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hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
FlÃ¡via (14/07)

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FEV 2014

JAN 2014

SHUFFLE HÃ¡ 1 ano: Rio De Janeiro HÃ¡ 2 anos: Rio De Janeiro

05/11/2013(0 comentários) Confira as fotos deste dia

Falkland, AtlÃ¢ntico Sul Falkland

Um Southern Giant Petrel (Petrel Gigante) voa sobre o Sea Spirit um dia antes de chegarmos Ã s Ilhas Malvinas

Bastaram dois dias a bordo do Sea Spirit para eu jÃ¡ mudar duas ideias prÃ©-concebidas que tinha dessa viagem. Primeiro, que nÃ£o verÃamos nada ou quase nada em alto-mar, nos percursos entre Buenos Aires e as Malvinas e depois, entre as Malvinas e a GeÃ³rgia do Sul. Segundo, que seria uma viagem de pouco aprendizado teÃ³rico e muita aprendizagem empÃrica, fruto da observaÃ§Ã£o da vida selvagem e geologia das ilhas que vamos visitar. Pois Ã©, tudo errado!

O irlandes Jim dÃ¡ sua primeira palestra sobre pÃ¡ssaros do AtlÃ¢ntico Sul, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas

Slide informativo na palestra sobre pÃ¡ssaros do AtlÃ¢ntico Sul, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas

Enquanto estamos longe de terra firme, nosso tempo no navio Ã© preenchido por diversas palestras interessantÃssimas sobre os mais diversos assuntos que se relacionam com essa viagem: vida selvagem, geologia das ilhas, glaciologia (estamos indo para uma regiÃ£o polar!) e histÃ³ria polÃtica e da exploraÃ§Ã£o dessas regiÃµes isoladas do mundo. As palestras sÃ£o dadas por especialistas do assunto e que sÃ£o os nossos guias nessa viagem. Por exemplo, temos o Jim, um simpÃ¡tico irlandÃªs que Ã© um ornitÃ³logo apaixonado por pÃ¡ssaros do mundo inteiro. Ou o inglÃªs Damien, historiador que estava na GeÃ³rgia do Sul quando a ilha foi invadida pelos argentinos em Abril de 1982. Ou ainda a Natalie e o Colin, biÃ³logos marinhos especialistas em mamÃferos, como baleias, golfinhos e leÃµes marinhos. O Colin foi, nada mais nada menos, que o principal responsÃ¡vel pelo treinamento da orca Keiko (a famosa â€œFree Willyâ€ dos cinemas!) para ele se readaptar Ã vida selvagem, quando ele foi solto nos mares da IslÃ¢ndia. Enfim, estamos muito bem acompanhados!

Um pÃ¡ssaro dÃ¡ um rasante sobre o mar no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas (foto de JPSalakari)

Observando pÃ¡ssaros no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas (foto de Ken Haley)

Nas palestras, muitas fotos, dados e curiosidades sobre os animais que vamos e estamos encontrando no caminho, sobre o comportamento do gelo e aquecimento global, sobre como e quando os primeiros exploradores chegaram Ã AntÃ¡rtida, ou sobre as desavenÃ§as polÃticas e geogrÃ¡ficas entre argentinos e ingleses. E o melhor de tudo Ã© ter esses conhecimentos teÃ³ricos para, em seguida, observar aqueles mesmos pÃ¡ssaros e baleias dos slides voando e nadando ao nosso lado, ao vivo e a cores, ou pisar no mesmo pedaÃ§o de terra por onde caminharam os lendÃ¡rios exploradores Amundsen ou Shackleton e os soldados que lutaram e morreram na triste guerra de trÃªs dÃ©cadas atrÃ¡s. Teoria e prÃ¡tica perfeitamente combinadas!

As telas do Sea Spirit anunciam a programaÃ§Ã£o do dia 05/11, com palestras de geologia e sobre cetÃ¡ceos pela manhÃ£ e filmes de tarde e de noite

Palestra sobre cetÃ¡ceos no auditÃ³rio do Sea Spirit, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas

Logo pela manhÃ£, ou na verdade, na noite anterior, jÃ¡ ficamos sabendo da programaÃ§Ã£o do dia, inclusive das palestras que serÃ£o proferidas. Agora no inÃcio da viagem, aprendemos muito sobre os pÃ¡ssaros que nos acompanham em alto mar e as baleias que migram por essas Ã¡guas em busca do alimento abundante da costa da AntÃ¡rtida. Pouco antes de chegar Ã¡s Malvinas, aprendemos sobre a geologia e histÃ³ria polÃtica dessas ilhas perdidas, mas muito disputadas, no AtlÃ¢ntico Sul. AuditÃ³rio sempre cheio, primeiro para ouvir os avisos que devem ser dados e depois, pela verdadeira aula que se segue.

Observando e fotografando aves no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas

Ao longe, baleias soltam seus enormes esguichos, para alegria dos viajantes do Sea Spirit, um dia antes de chegarmos Ã s Ilhas Malvinas

Depois, com todo mundo jÃ¡ afiado no assunto de pÃ¡ssaros e baleias, Ã© hora de subir ao deck munido de binÃ³culos e cÃ¢meras fotogrÃ¡ficas e comeÃ§ar a olhar para os cÃ©us e para o mar, em busca dos animais que acabamos de estudar. E aÃ Ã© que entra aquela outra ideia que eu tinha, de que nada ou pouco verÃamos em alto-mar. Ledo e grato engano!

Golfinhos nadam submersos ao lado do Sea Spirit, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas

Um golfinho nada ao lado do Sea Spirit no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas (foto de Ken Haley)

Em primeiro lugar, conseguimos sim avistar algumas baleias ao longe, aquele esguicho de vapor caracterÃstico nos chamando logo a atenÃ§Ã£o. Depois de uma longa temporada nos mares quentes da Bahia onde tem seus filhotes e os amamentam longe dos predadores, agora Ã© a Ã©poca de retornar aonde estÃ¡ seu alimento, nos mares gelados do sul. Passam meses quase sem se alimentar e nessa Ã©poca do ano estÃ£o famintos, nadando a toda velocidade em direÃ§Ã£o Ã AntÃ¡rtida. NÃ³s estamos um pouco cedo na temporada de baleias aqui no sul, mas devemos ver sim algumas delas, pelo menos as mais adiantadas e esfomeadas. Para quem tem esse como principal objetivo, Ã© melhor vir um pouco mais tarde.

Diferentes espÃ©cies de pÃ¡ssaros acompanham o Sea Spirit um dia antes de chegarmos Ã s Ilhas Malvinas

AlÃ©m das baleias, tambÃ©m vimos alguns golfinhos, esses muito mais prÃ³ximos do barco. SÃ£o espÃ©cies bem diferentes das que estamos acostumados, que preferem as Ã¡guas quentes de Fernando de Noronha ou do HavaÃ. Mas sÃ£o igualmente belos, Ã¡geis e curiosos, dando seus pulos ao lado do Sea Spirit e tentando averiguar do que se trata esse enorme monstro de metal locomovendo-se em seu territÃ³rio. E ainda aproveitam para achar e comer algum peixe que esteja tambÃ©m curioso pelas Ã¡guas mexidas pelo movimento do barco.

Muitas aves voam prÃ³ximas do Sea Spirit no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas

Ã‰ esse mesmo movimento que atrai centenas de pÃ¡ssaros ao nosso encontro. Muito mais do que golfinhos e baleias, sÃ£o eles que nos acompanham, mais de dez espÃ©cies diferentes, de todos os tamanhos e com uma categoria impressionante de simplesmente planar no ar, raramente usando suas asas. O movimento do barco mexe com o plÃ¢ncton, o que atrai os pequenos peixes e seus predadores. Os pÃ¡ssaros jÃ¡ sabem disso e vÃªm de longe dar uma olhada no navio e no rastro que deixa para trÃ¡s. E nÃ³s, lÃ¡ no nosso deck de observaÃ§Ã£o, a mais de 1.000 km de qualquer terra firme, ficamos cercados por pÃ¡ssaros. Ã‰ impressionante!

PÃ¡ssaros voam perto do Sea Spirit no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas

PÃ¡ssaro se aproxima do Sea Spirit no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas (foto de Mitch Jasechko)

NÃ£o fosse pela palestra da manhÃ£ com o Jim, lÃ¡ estarÃamos admirando tudo, mas sem entender nada. Mas aprendemos que vÃ¡rias dessas espÃ©cies de pÃ¡ssaros, que para olhos e mentes menos treinadas parecem estar perdidas no meio do nada, na verdade vivem por aqui. SÃ£o pÃ¡ssaros que passam meses a fio em alto mar, nem sombra de terra por perto. Voam e planam por milhares de quilÃ´metros, quase sem gastar energia e se alimentando de peixes. Volta e meia, pousam na Ã¡gua, refrescam-se e descansam um pouco para, em seguida, alÃ§ar voo novamente. A facilidade com que planam minutos sem uma Ãºnica batida de asas Ã© mesmo incrÃvel. Parecem ver as correntes de ar e de vento e usam sua forÃ§a para flutuar no ar. Um completo domÃnio de seu centro de gravidade, inclina daqui, inclina dali e conseguem acelerar ou frear, virar a esquerda e a direita sem nenhum esforÃ§o aparente. Um verdadeiro show de aeromodelismo!

Um Black-browed Albatross (Albatroz de Sobrancelha) voa sobre o Sea Spirit um dia antes de chegarmos Ã s Ilhas Malvinas

Muitos Southern Giant Petrel (Petrel Gigante) acompanham o Sea Spirit um dia antes de chegarmos Ã s Ilhas Malvinas

O mar Ã© seu ambiente natural. VÃ£o para terra firme apenas para se reproduzir e os que nascem, aÃ passam a sua infÃ¢ncia. Mas adolescentes e adultos, esses ficam mesmo, boa parte do tempo, no oceano. PÃ¡ssaros marcados com radiotransmissores indicam que eles tem a mais perfeita noÃ§Ã£o de onde estÃ£o, apesar de que, no mar, sem terra a vista, tudo parece igual. NÃ£o para eles que, alÃ©m de â€œverâ€ o vento, parecem â€œverâ€ tambÃ©m o campo magnÃ©tico da Terra. E assim conseguem se orientar, algumas vezes voando mais de 2 mil km em linha reta atÃ© alguma ilha, outros mil atÃ© outra ilha e ouros dois mil atÃ© o ponto inicial, descrevendo um perfeito triÃ¢ngulo de enormes proporÃ§Ãµes sobre esse mundo formado de Ã¡gua. Olhar esse traÃ§ado no mapa chega a ser emocionante, uma inteligÃªncia cercada de habilidades se escondendo atrÃ¡s de penas e bicos. IncrÃvel!

Um magnÃfico Black-browed Albatross (Albatroz de Sobrancelha) plana sobre o Sea Spirit um dia antes de chegarmos Ã s Ilhas Malvinas

O belo Great Shearwater (Pardela de Bico Preto) sobrevoa o Sea Spirit um dia antes de chegarmos Ã s Ilhas Malvinas

Como eu jÃ¡ disse, sÃ£o vÃ¡rias espÃ©cies de pÃ¡ssaros que tem esse comportamento semelhante e a nossa diversÃ£o Ã© tentar identificÃ¡-las em pleno voo. Ã‰ claro que o Jim, nosso ornitÃ³logo preferido, ajuda bastante. Sua presenÃ§a ali no deck e a animaÃ§Ã£o com que identifica e descreve cada um desses pÃ¡ssaros nos contagia. Alguns dos pÃ¡ssaros que ali vemos sÃ£o os maiores do mundo, pelo menos em envergadura. SÃ£o os albatrozes e, de ponta a ponta das asas, chegam quase a incrÃveis 4 metros! Muitos desses pÃ¡ssaros que vimos por aqui, acabamos aprendendo primeiro seus nomes em inglÃªs (com sotaque irlandÃªs, hehehe), para sÃ³ depois, com ajuda da internet, descobrir seus nomes em portuguÃªs. Vimos vÃ¡rios tipos de albatrozes (Black-Browed, Grey Headed, Southern e Northern Royal), pardelas (Great, Manx, Sooty, Southern Fulmar) e petrels (Northern e Southern Giant, Cape, White-chinned, Wilson, Atlantic, Soft-plumaged, Black-bellied, Thin-billed). AtÃ© mesmo pinguins, mas esses, como todos sabem, nÃ£o voam. Eram pinguins-de-magalhÃ£es e ainda vamos ver centenas deles, dessa e das outras espÃ©cies de pinguins, a ave-sÃmbolo da AntÃ¡rtida. Ã‰ sÃ³ chegarmos mais perto de terra firme.

Muitas aves voam prÃ³ximas do Sea Spirit no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas

O belo Great Shearwater (Pardela de Bico Preto) sobrevoa o Sea Spirit um dia antes de chegarmos Ã s Ilhas Malvinas

Enfim, a brincadeira Ã© fazer uma lista de todas as espÃ©cies que vemos e ir aumentado a tal lista todos os dias. Ao final do terceiro dia, jÃ¡ tÃnhamos 4 espÃ©cies de mamÃferos e 22 de aves. Ã‰ um bom comeÃ§o, nÃ£o? Por enquanto, as aves vÃ£o dando um show, ainda mais agora que nos aproximamos das Malvinas. Elas estiveram conosco toda a manha e principalmente pela tarde. Embelezaram ainda mais o pÃ´r-do-sol e, mesmo com a tÃmida luz da lua, continuavam a nos acompanhar. Ã‰ o paraÃso para os amantes dos pÃ¡ssaros, sem dÃºvida!